quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Os desafios da Igreja no século XXI.

  

Como manter os princípios da Igreja e a permanência dos fiéis no mundo moderno individualista?
Algumas semanas atrás reli o livro de Joao B. Libânio “Qual o futuro do cristianismo?"
Teólogo renomado nas academias do Brasil, o autor faz uma série de constatações sobre os principais desafios da Igreja no inicio deste novo milênio. Algumas idéias me chamaram a atenção na leitura do texto. Segue abaixo algumas reflexões que surgiram com a leitura do mesmo.
"A moral e os costumes, a arte e a ciência, a política e até a economia, toda a bagagem cultural que a humanidade carrega, foi tocada e ainda é moldada pelo cristianismo."
Não houve na história universal, personagem mais influente do que o pregador e mestre Jesus de Nazaré.  
Seus ensinamentos e a religião fundada em seu nome triunfaram por vinte séculos, enfrentando e vencendo crises com uma força que para os fiéis só pode ter inspiração divina. É uma história respeitável e rica de valores culturais.
No entanto, o novo milênio iniciado há pouco traz desafios talvez ainda maiores para a sobrevivência e a predominância do cristianismo.  
Especificamente, apresenta grandiosos obstáculos ao seu braço mais vigoroso, a Igreja Católica. Como será daqui para a frente? Como serão a face e a voz de Jesus Cristo – e de sua Igreja mais antiga - num mundo em furiosa transformação tecnológica e de costumes? 
O primeiro desafio para a Igreja Cristã neste Novo Milênio, segundo os estudiosos da Religião, é a chamada secularização: 
Fenômeno pelo qual as crenças e instituições deixam de pertencer a uma esfera puramente religiosa – ou mística - para ganhar contornos leigos, e, muitas vezes, filosóficos. Num sentido mais genérico, a secularização que preocupa o Vaticano é a tendência que as pessoas têm - hoje em dia mais do que nunca, talvez - de ignorar os ensinamentos da Igreja.
A indiferença dos fiéis cristãos para com a Doutrina de Fé professada no Credo
Hoje é muito comum encontrar fiéis que querem ser bons católicos sem ter de seguir à risca cada um dos ditames da Igreja. Eles se afirmam cristãos convictos ao mesmo tempo em que usam métodos anticoncepcionais, fazem aborto ou casam-se e divorciam-se ininterruptamente, por exemplo.
O Segundo desafio para a Igreja neste Novo Milênio problema gira em torno da pressão exercida por boa parte da sociedade ocidental para que a Igreja “se modernize”, seja mais coerente com situações corriqueiras nos dias de hoje. 

No passado, o Vaticano afastou as mulheres do sacerdócio e proibiu os padres de se casarem. Atualmente, isso começa a parecer para muitos devotos um dogma que engessa a fé em regulamentos ultrapassados. O fim do celibato clerical já chegou a ser apontado com uma saída para evitar escândalos como o dos padres pedófilos, 
Num horizonte mais distante, há ainda os pedidos de aceitação do casamento gay – já legalmente realizado em alguns países. Dentro do catolicismo, a questão que não tem, ao menos hoje, muitas perspectivas de ser resolvida em breve. Certa vez, ao encontrar a diretora executiva da ONU, o papa João Paulo II afirmou a ela, com o dedo em riste: "Uma família é um marido, uma mulher e suas crianças.
Como se não bastasse o efeito provocado no catolicismo por estas questões contemporâneas, a Igreja ainda se vê às voltas com o complexo desafio de manter a unidade da doutrina cristã ao mesmo tempo que faz aberturas na direção de outras crenças

Como admitir a existência de outros credos sem perder a fé na hegemonia de seus princípios? A bandeira do ecumenismo nunca foi tão levantada dentro e fora do Vaticano, o que levou o clero romano a repensar sua postura sobre o tema durante o século XX. Houve até acenos de conversas com os protestantes, numa suposta tentativa de restabelecer a unidade que uma vez existiu entre as duas correntes. No entanto, estes fracos sinais não escondem os problemas de convivência que existem – mais em alguns pontos do planeta do que em outros – entre católicos e judeus, ou entre católicos e muçulmanos, por exemplo.
O ambiente de ampla liberdade religiosa que predomina na maioria dos países cristãos permitiu, por exemplo, que o islã construísse uma de suas maiores mesquitas em plena Roma dos santos e dos papas. Mas os cristãos têm de disputar espaço com o islamismo nos países onde ele predomina

A construção de qualquer templo que não seja uma mesquita é rigorosamente proibida nos países islâmicos. O islamismo não se contrapõe apenas ao cristianismo, mas ao pensamento ocidental como um todo. Tendo a Igreja Católica a importância que tem no mundo ocidental, ela será sempre uma das primeira instituições convocadas a discutir as querelas com os muçulmanos.
Todos os desafios atuais enfrentados pelo Vaticano foram mais do que prenunciados desde o fim do século XIX. 

A maior tentativa de reação aos “tempos modernos” do catolicismo foi a organização do Concílio Vaticano II, entre 1962 e 1965. O objetivo dessa grande assembléia religiosa proposta pelo papa João XXIII era dar impulso à dimensão pastoral da instituição, atenuando o papel inquisitório por ela desempenhado nos séculos precedentes. O norte dos debates foi o diálogo com o homem moderno e com as outras religiões, e suas resoluções foram a principal fonte de inspiração para todos os papas que o seguiram – o mais notável foi João Paulo II, que nunca se cansou de evocar o Concílio para justificar suas ações.
Diante de tantos obstáculos, a Igreja chega ao início do século XXI procurando afirmar-se como instituição capaz de dar conta de questões morais e políticas que extrapolam o plano da fé

Mas, principalmente, inicia o milênio pregando o apego à pureza doutrinária e à tradição, como estratégia para se impor a um mundo volátil e de frágeis valores morais. Foi o que fez João Paulo II, e ó que vem fazendo seu sucessor, Bento XVI. O tempo dirá se a decisão de seguir por este caminho é capaz de adaptar a religião à sua época ou se levará a Igreja a um indesejado isolamento.
Merece nossa reflexão.
Frei Eduardo F. melo
Teresopolis 24 de fevereiro de 2011.

Um comentário:

  1. Oi Frei!!!!! fui lendo esse texto fiquei com saudades de vc, sempre tão seguro nas suas teorias sempre com um dircusso que acaba convencendo até os que estão em cima do muro.... desculpe a brincadeira , mas é verdada a parte do convencimento... lembro do sermão "porque Nossa Senhora não foi uma mulher qualquer , escolhida aleatoriamente , não esqueço dos argumentos. E tantos outros que agora não me recordo. Saudades de vc . abração.

    ResponderExcluir

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.